

ENTREVISTA
Alexandre Vidal Porto
Alexandre Vidal Porto es escritor y diplomático. Es autor de Matías na cidade, Sergio Y. vai à América (Premio Paraná de Literatura), Cloro (finalista del Premio Jabuti) y Sodomita (Premio Mix Literário), todos publicados por la Companhia das Letras.
Como foi seu processo de se tornar escritor?
O meu processo de me tornar escritor foi tortuoso. Desde criança eu gostava de livros e era um leitor voraz. Tinha muitos correspondentes e escrevia cartas cotidianamente durante vários anos da minha vida juventude. Isso foi parte importante da minha formação como escritor. No entanto, só depois que aceitei a minha homossexualidade, já mais maduro, foi que criei coragem de me deixar levar pela criatividade artística e escrever ficção. O ofício do escritor exige muita autoinvestigação. Como fazer isso se eu morria de medo do que minha intimidade revelaria? Depois que a homossexualidade deixou de ser uma ameaça para mim, comecei a escrever meu primeiro romance e me sentir escritor.
Qual o espaço da escrita na sua vida?
É uma espaço grande e crescente, tanto em termos de bem estar quanto de identidade pessoal. No entanto, esse espaço tem de conviver e acomodar outros aspectos da minha vida às quais também devo espaço e dedicação, como o fato de eu ter outra profissão e cumprir obrigações familiares e sociais. Gostaria de ter mais tempo e disponibilidade para escrever mais, mas o fato de ter pouco tempo para a escrita faz com que ela se torne mais intensa e concentrada, acho.
Como é o seu processo criativo? Você tem rotinas de escrita?
O meu processo criativo pode ser desencadeado pela observação de um pessoa cuja vida ou personalidade me atraia, ou por uma conversa com um amigo, ou um filme. A partir daí, concebo uma história e faço um plano de trabalho, que tento seguir, mas sem constrangimentos. Sou um grande entusiasta da rotina e tento manter uma, na medida de minhas possibilidades. Escrevo em geral no final da tarde, quando volto do trabalho, até o horário do jantar, um pouquinho todo dia.
O ofício do escritor exige muita autoinvestigação. Como fazer isso se eu morria de medo do que minha intimidade revelaria?
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Como você define o que escreve?
É melhor que o leitor ou os críticos deem essa definição. A Tatiana Salem Levy escreveu uma vez que eu falo de “párias” da sociedade. A Bruna Dantas Lobato escreveu algo semelhante. Concordo com elas, embora isso não seja evidente, uma vez que os “párias/personagens” das minhas histórias são bem situados socialmente. Porém, emocionalmente, são excluídos e recebem menos do que a vida poderia lhes dar. O crítico americano Bill McPherson disse que escrevo sobre as complexidades do amor por meio de personagens que buscam elevação emocional. Para mim, isso faz sentido.
Quais são suas influências?
Há autores de quem eu gosto muito e a quem sempre retorno. Gosto muito de Walt Whitman, de Fernando Pessoa, WH Auden, Constantin Cavafy. Na prosa, gosto muito de Guy de Maupassant e de Machado. Claro que a leitura repetida e a inspiração que esses autores me causam devem ter tido influência no que eu escrevo, mas a verdade é que não sei como isso se manifesta na minha obra.
Que livro você gostaria de ter escrito? Por quê?
Nunca desejei ser autor de nenhum outro livro que não os meus. Não penso nesses termos porque acredito que a escrita de cada um é única e a autoria e a experiência que a baseia não se transferem como um DNA. Mas adoraria ser capaz de escrever algo como “Folhas de Relva”, pela sabedoria e sentido de possibilidade que os poemas inspiram.
Gostaria de ter mais tempo e disponibilidade para escrever mais, mas o fato de ter pouco tempo para a escrita faz com que ela se torne mais intensa e concentrada, acho.